sábado, 23 de janeiro de 2010

HAITI NA CONSCIÊNCIA E NO CORAÇÃO



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A tragédia que abateu o Haiti, ceifando mais de cem mil vidas, vem sacudindo corações e mentes em todo mundo. Desde 1994 o Brasil lidera as forças de paz da ONU, no sentido de disciplinar o caos social que foi sendo gerado há séculos em função do legado da deportação e escravidão de tribos africanas por europeus, desde o século XVII. Da servidão amarga na Isla Hispaniola – repartida em 1697 entre Espanha e França, surgindo o Haiti e a República Dominicana – brotava a doce riqueza do açúcar e os sabores requintados do cacau e do café, especiarias para o paladar europeu.


A História da Ilha, descoberta por Cristóvão Colombo, foi marcada pela violência e escravidão dos índios, desde 1492. Em menos de um século a população indígena local foi barbaramente dizimada pelos conquistadores. O povo do Haiti, parte francesa da Ilha, frente à situação insustentável dos africanos e descendentes , rebelou-se em 1794 – seguindo o modelo da revolução francesa. A revolta dos escravos culminou com a independência, em 1803. A ousadia dos escravos, resistindo os reforços advindos da metrópole, levou o novo país a amargar 60 anos de bloqueio comercial por parte da Europa e EUA – precipitando uma grande crise econômica com conseqüências sociais e políticas.


Foi do Haiti que Simon Bolívar partiu com dinheiro, armas e militares em sua cruzada de libertação de nações da América Latina. Anos depois, encurralado pela armada francesa, o País teve que assumir uma dívida indenizatória astronômica de 150 milhões de francos – exaurindo sua economia precária. Os séculos XIX e XX viram florescer e decair uma estirpe de ditaduras, com corrupção e mazelas políticas.


Em 1957 François Duvalier foi eleito presidente. Dominou o País com o terror policial, buscando permanecer no poder com a prática do vodu. Exterminou adversários políticos e perseguiu cristãos. Morreu em 1971, sendo sucedido pelo seu filho, o Baby Doc que, em 1986, teve que fugir do Haiti, sendo recebido na França com seus milhões de dólares, que gastou dissolutamente nos redutos da moda, em Paris e no litoral. Em 1990 o padre Jean-Beltrand Aristide foi eleito presidente. Tinha idéias socializantes inspiradas na Teologia da Libertação. Foi deposto no ano seguinte através de um golpe de Estado. O País, por isso, voltava a ser alvo de sanções econômicas por parte da ONU e da OEA, que queriam a redemocratização.


Aristide retornou ao poder em 1994 e, naquele mesmo ano, foi derrubado pelos militares acusado de corrupção. Foi substituído pelo presidente do Supremo Tribunal, Bonifácio Alexandre, que solicitou ajuda da ONU. Nesse ano a Assembléia das Nações Unidas aprovou o envio da Força Internacional de Paz (MIF), liderada pelas forças armadas do Brasil, sob o comando de Augusto Heleno R.Pereira. Essa força de paz é formada por 16 países (Atualmente MINUSTAH - sigla derivada do francês: Mission des Nations Unies pour la stabilisation en Haïti).


Neste 12 de janeiro o grande terremoto fez com que cerca de 120 mil haitianos fossem mortos sob escombros, especialmente na capital do País. Hoje milhões de pessoas perambulam em busca de socorro. Entre as vítimas fatais cerca de 20 brasileiros – 18 deles que serviam as forças de paz da ONU. Há no País mais de 300 mil crianças em situação de risco – muitas são agregadas a famílias de mais posse e se tornam semi-escravas, conforme denúncia da BBC de Londres. Outras fogem para a vizinha República Dominicana em busca de uma vida menos sofrida. Esse é o legado do colonialismo que também infelicitou o continente africano – onde estão as raízes de mais de 90% da população haitiana. Bem antes da solidária rede que vem sendo formada pela Cruz Vermelha, Médicos sem Fronteira, entre outros – juntamente com contingentes e recursos governamentais de dezenas de países – já estavam lá os missionários cristãos, de braços dados com a parcela mais pobre, partilhando o pão e o Evangelho de forma prática, cuidando de crianças em orfanatos e abrigos, longe do olhar da mídia e dos holofotes da grande imprensa. Euclides da Cunha, relatando a Guerra de Canudos, definiu o nordestino: “Antes de tudo um forte”. A expressão pode ser utilizada também com relação a esse povo que teima em viver em meio a séculos da opressão estrangeira, conflitos históricos, mazelas domésticas e desencontros sociais. Na França, tributária de quase mais de dois séculos do trabalho escravo, fala-se em perdão para a dívida externa do Haiti: seria um reparo justo! Centenas de famílias abrem os braços, desejosas de adotar os órfãos do terremoto.


O drama dos haitianos parece tirar da madorra espiritual a alma de milhares de pessoas – do ocidente civilizado - que, de uma forma ou de outra, se solidarizam, enviando água, alimentos e recursos médicos para milhões de pessoas. Bombeiros e voluntários resgataram mais de uma centena de pessoas da morte de sob os escombros, até depois de 11 dias do terremoto – como sinais da providência e soberania divina – como o caso de uma anciã de 94 anos, um bebê de 23 dias; crianças que venceram a sepultura de entulhos, abrindo pulmões e braços para celebrar o triunfo da vida sobre a morte. Em meio ao caos parece florescer o vigor espiritual e a beleza do serviço cristão nos hospitais improvisados, no transporte e distribuição de água e comida. O Brasil tem sido honrado, pois seus soldados embarcam armados para uma Missão de Paz e não de guerra – não para a conquista ou dominação, mas para o serviço e o bem-estar daqueles cidadãos afro-americanos. Que a consciência do ocidente repare tantas injustiças cometidas sob o testemunho da História. Que Deus seja glorificado no Haiti. Que esse povo sofrido levante-se desse quebrantamento para uma vida nova sob Sua graça e soberania.

José J. de Azevedo

“Clamarás ao Senhor e o Senhor te responderá; gritarás, e Ele te dirá: Eis-me aqui! Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaça, o falar injurioso; se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia” (Isaías 58.9-10).






Dados históricos veja em:


1.pt.wikipedia.org/wiki/Haiti

2.www.cecac.org.br/mat%E9rias/Haiti.htm

3.observatoriosocial.org.br/conex2/?q=node/1164.