Nos anos 60 um jovem de Minnessota, chegava à Nova York, com seu violão e sua gaita de boca. Robert Zimmerman, nascido em 24.05.1941, era seu nome. O mundo o conheceria como Bob Dylan. Suas primeiras apresentações de música folk logo chamaram a atenção de um famoso crítico do New York Times, que reconheceu seu talento. Dylan grava seu primeiro LP em 1961 e mais tarde estoura nas paradas com Blowin`in the Wind, canção que se tornaria hino do movimento pelos direitos civis – liderado, então, pelo pastor Rev. Martin Luther King. As canções de Dylan passaram a embalar sonhos de liberdade da juventude. Sua poesia marcada pela atualidade denunciava o militarismo, corrida nuclear, a hipocrisia. Encontrava seus temas nas ruas e manchetes de jornais. Comportamento arredio, modos anticonvencionais e zêlo em preservar-se da mídia, formavam o mito, a lenda. Nos anos 80, falando sobre a crescente decadência da música pop, o rock, transformado por corporações em negócio sujo e consumista, Dylan comentou: "A verdade sobre qualquer coisa nessa sociedade, como você sabe, é ameaçadora. A fofoca domina. É como se consciência fosse uma palavra suja". Para ele, a música que empurram para a juventude gera comportamento medíocre e alienado: "..tudo é muito comercial como um polvo que se esparrama, tudo parte do sistema. Às vezes você se imagina como se vivesse no filme Invasores de Corpos, e a gente fica pensando se já foi apanhado, se já se tornou um deles".
Boby Dylan ensinou a seus ouvintes um caminho na contra-mão do oportunismo. Para ele, arte tem a ver com integridade: "Não tinha nada a ver com compor, fama, fortuna... Entende o que eu quero dizer, podia tocar num teatro, na traseira de um caminhão, numa boate, ou na rua, tanto fazia... Cantar a música, contribuir com alguma coisa que valesse a pena, e pagar minhas despesas no caminho".
Um herói? Ele diz: "Penso num herói como alguém que compreende o grau de responsabilidade que vem com a liberdade... Enfrentar uma multidão com meu violão é uma das coisas mais heróicas que posso fazer". Afirmou: "Não acredito que a psiquiatria ajude ou já tenha ajudado alguém. Acho que esta é uma grande fraude com o público. Bilhões de dólares trocaram de mãos, e poderiam ter sido usados para propósitos melhores". Sobre drogas ele declarou: "Eu nunca tive nada a ver com o charme das drogas. Aquilo foi uma coisa dos beats, não minha...o drogado não é o problema. O drogado é o sintoma, não o problema...como o Dr. Freud diria".
A tradição judaica da família deu a Bob Dylan, preciosa referência espiritual, visível em sua biografia. Quando os Beatles buscavam em indus e maharishis os gurus para suas jornadas psicodélicas, Bob Dylan viajava para Jerusalém, visitando o muro das lamentações. Quando os Rolling Stones cantavam "Simpatia ao demônio", ele declarava-se cristão. Nesse período gravou três preciosos long-plays no estilo da gospel music. Aos 39 anos viveu a mais marcante experiência de sua vida. Na ocasião, afirmou: "O mais engraçado é que muitas pessoas pensam que Jesus só entra em nossa vida quando estamos por baixo, infelizes, ou simplesmente velhos e à espera do fim. Mas não foi isso que aconteceu comigo. Eu estava numa ótima. Minha carreira tinha tomado novo impulso, em 1978, quando um grande amigo meu teve uma conversa muito profunda comigo, e uma das coisas sobre as quais falou foi Jesus". Dylan, então, foi apresentado a dois pastores, aos quais perguntou: "O que é o Filho de Deus, o que significa tudo isso? E o que significa morrer pelos meus pecados?". Passou a acreditar que Ele é real: "Eu sabia que Ele não iria entrar na minha vida para torná-la infeliz...até que tive esta sensação, esta visão e sensação". Nessa época gravava "Slow train coming", nítida influência do Evangelho, um apaixonado testemunho em nome da salvação, devoção e doutrina cristã – escreveu um crítico.
Sobre religião ele disse: "Para mim, o mais importante é entrar em contato com Jesus Cristo. Ele nos guiará. O pregador autêntico é aquele que diz: Não siga a mim, siga a Cristo!. Eu passei por uma experiência de autêntico renascimento, se você quiser chamá-la assim... Um dia, eu estava dormindo, e de repente dei um pulo da cama, às sete da manhã, e senti que uma força maior me impulsionava a vestir uma roupa e ir até ao curso de Bíblia. Eu já tinha aceito Jesus em meu coração, mas não havia falado com ninguém sobre isso, porque sentia que a reação seria de não me levarem a sério. A maior parte das pessoas que conheço não acredita que Jesus ressuscitou, que Ele está vivo, mas eu já havia deixado de pensar assim".
Bob Dylan, sempre firme no compromisso com a liberdade e respeito aos admiradores de sua música, declarou: "Quando passeio por algumas das cidades incluídas nas turnês, no entanto, fico totalmente convencido de que as pessoas precisam de Jesus. Basta ver o número de viciados, alcoólicos e neuróticos. Trata-se de manifestações de uma doença que pode ser curada num minuto. Mas o poder constituído não permite que isso aconteça. O poder constituído diz que a cura deve se dar politicamente". Bob Dylan completou 70 anos, em maio de 2011, e continua em boa forma, sempre criativo e exigente no exercício de sua arte. Este ano visita o Brasil mais uma vez! (José J Azevedo)