quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010


George Orwell, 1984 e o
Big Brother Brasil - BBB


Li “1984”, de George Orwell, nos anos da minha juventude. Foi impactante, pois vivíamos numa era em que muitas ditaduras pipocavam pelo mundo – inclusive no Brasil. No livro o “Big Brother”, é o ditador da fictícia Oceania – e uma caricatura do totalitarismo personificado em gente como Adolf Hitler, Benito Mussolini, Josef Stalin, entre outros truculentos menos famosos.
É lamentável que o tema do livro seja utilizado nesse circo televisivo chamado “BBB” – reality show que já caiu de moda em vários países em função da exigência cultural de seus habitantes. Infelizmente o programa está durando em nosso País – talvez por causa da crescente desvalorização da cultura (com C maiúsculo) e da educação – meios fundamentais para o desenvolvimento da crítica, dos valores éticos e do bom-senso. Nessa terra de ninguém, onde geralmente quem manda é o mais experto e não o mais eficiente ou o mais criativo, esse tipo de cultura brota e contamina especialmente o povo menos informado, mais carente de opções culturais e espirituais. Nesse sentido a juventude torna-se o alvo mais cobiçado – em função da sede da novidade, disposição para a contestação, etc.
Creio que por trás dos bastidores dessa teletela atual o interesse não é apenas o lucro custe o que custar – da emissora e dos patrocinadores. Há uma verdadeira conspiração, no sentido de vulgarizar, um estilo de vida que possa conduzir o País conforme mentes que buscam manipular o imaginário, com objetivo de impor sua agenda no mínimo tendenciosa – seja na escolha dos perfis dos candidatos à exposição ‘bigbrodhiana’, seja na indução ao consumo em função dos interesses comerciais (bebidas alcoólicas, tabaco, marcas, etc.) graças ao efeito demonstração e à manipulação subliminar. Nesse sentido esse Grande Irmão é manipulador, interesseiro, zombeteiro e depravado. Joga muito bem com o conceito de liberdade – porém seu objetivo é amarrar e escravizar milhões de pessoas conforme sua ambição pelo poder, pela fortuna, personificada nos candidatos que ralam na sua arena em busca do prêmio. A fome em busca da vontade-de-comer: casamento da cobiça com a ambição – com dezenas de milhões gastando seus centavos para participar desse jogo com de cartas marcadas.
Ao contrário do Estado – que era o instrumento de dominação da ficção “1984” dos ditadores, para a realização de seus planos malignos, agora é a iniciativa privada – o mercado com seus tentáculos - personificada nas potestades do ar (Redes de TV).
A série BBB também se presta ao serviço de levar ao conformismo a população quanto a constante quebra de privacidade que hoje se vê, com cameras nas ruas, nos corredores, nos elevadores, em repartições e coletivos – vigiando cada movimento do cidadão, sempre sob suspeição. Tudo em nome da segurança e da paz social! Para onde caminhamos nesse BBB universal? Parece haver, do outro lado das telas, uma insidia, uma mente poderosa, impessoal, enigmática, com sede ilimitada de informação para saciar seus quadrilhões de bites, – que nos lembra a saga genial dos personagens de Matrix, o filme. Como defender nosso corações e mentes da imposição brutal da violência, das aberrações cinematográficas, das perversões inculcadas, das tendências virtuais tendenciosas, da banalização da vida e do desprezo da alma?
Sejamos sábios, cautelosos e prudentes! Há maravilhosas sendas do saber e da verdadeira cultura nas bibliotecas, nos diálogos entre gerações, na camaradagem sadia e na afetividade sóbria de amizades que conduzem a hombridade. Pelo amor de Deus: O tempo é precioso demais para perdê-lo se expondo a malicia decrépita desse Big Brother!
George Orwell escreveu sua genial obra, “1984”, para prevenir e vacinar o mundo com relação a ameaça da tirania e do totalitarismo. Foi descaradamente traído! Leia esse livro em vez de ser tributário ingênuo dessa depressiva e miserável programação.
(José J de Azevedo)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O CRISTÃO E O MEIO AMBIENTE





















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O cristianismo atual carece de profundas reflexões e reciclagem geral de atitudes e valores, de forma a se conformar com uma vida baseada na simplicidade, humildade e sabedoria – tão belamente caracterizada no estilo de Jesus, seus discípulos e na prática generosa e solidária da igreja descrita nos Atos dos Apóstolos.
Conforme Gênesis, o Criador atribuiu ao ser humano, formado à sua imagem e semelhança, o cuidado para com a natureza. Deus deu ao ser humano a tarefa de administrar o planeta! O labor não tinha o objetivo de ser uma maldição, mas bênção, caminho de disciplina e busca de aperfeiçoamento. Como diz o antigo ditado, nos ofereceu condições da descoberta, ensinar a pescar e não simplesmente oferecer o peixe no prato. Através dos milênios o ser humano, na sua árdua busca da sobrevivência, foi construindo o acervo do saber graças ao qual pode superar obstáculos em um mundo hostil e perigoso.
Ao homem foi atribuído o papel central na terra. Não podemos interpretar o Gênesis a partir de uma visão utilitarista da natureza – muito menos com uma visão consumista e soberba. Na verdade Deus deixou o mundo em condições plenas para a sobrevivência do homem e das outras formas da vida – para conviver cooperativamente com a fauna e aflora, preservando as fontes da sustentabilidade: A água, o ar, o solo e o subsolo, a terra em seu majestoso equilíbrio, como um milagre sabiamente planejado em meio a infinitas galáxias as quais o homem perscruta em busca de débeis sinais de vida.
A parábola da queda revela o ser humano afastando-se da sabedoria divina para colocar-se em auto-suficiência. Conforme o teólogo John Stott foi a cobiça que o levou à rebelião, o querer ser igual a Deus! Foi uma queda espiritual com conseqüências para toda a criação.
Esse é o caminho trilhado, desde então, até a nossa geração!
Há dois mil anos “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Conforme Dietrich Bonhoeffer, “Deus revelou-se plenamente ao homem no rosto de Cristo”. Tratava-se não apenas de salvar o homem, e sua alma, da condenação eterna, mas também salvar o homem de si mesmo, ensinando o caminho sobre como preservar sua alma – o único bem eterno que Deus nos deu.
Em torno de Cristo e por sua obra nasceu a Igreja. Jesus adveio de uma família humilde de operários da Galiléia – de um povoado rural sem expressão. Não nasceu de uma família sacerdotal, não foi gerado num palácio, mas em um casebre. Sua primeira casa foi uma estrebaria, junto com guardadores de rebanho, ouvindo o relincho dos cavalos e o balido das ovelhas. Essa pobreza não foi circunstancial, mas exemplar! Jesus peregrinava a pé, sobre suas sandálias, ensinando a sabedoria do Reino e o caminho da abnegação.
Hoje o mundo todo se preocupa com as conseqüências do desatino consumista – que tem levado à destruição ambiental, exaurindo recursos naturais, comprometendo o bem-estar das próximas gerações. Os cientistas alertam para a crescente poluição dos elementos fundamentais da nossa sobrevivência, as mudanças climáticas e suas consequências.
Diante dessa realidade, qual deve ser a atitude do povo que se diz cristão?
Essa é o desafio que, em Sua soberania, Deus tem colocado para a Igreja.
Somos chamados ao arrependimento por causa da vida consumista e por causa da espiritualidade superficial que faz com que a nossa geração beba mais das águas impuras do consumismo – motivado pela exposição irresponsável frente a uma mídia manipulada pelos fazedores do lucro a qualquer custo – do que na fonte salutar que mana generosa do Novo Testamento. O estilo de vida dos cristãos pioneiros não tem quase nada a ver com o viver e a prática de milhões de cristãos, em nossos dias – contrariando o alerta paulino de não nos conformarmos ao mundo dos valores materialistas, mas renovar a mente para o conhecimento da vontade perfeita de Deus. Nos últimos tempos, por exemplo, a teologia da prosperidade subverte os valores cristãos genuínos e revela a alienação de grande parte de líderes religiosos tão populares, que ocupam parcela crescente da mídia televisiva. Em vez do clamor para uma volta às raízes e aos fundamentos, praticados e ensinados por Jesus, o foco tem sido a necessidade, o interesse e o sucesso financeiro. O centro do culto parece não ser mais a glória de Deus e o amor ao próximo. A vivência da fé vem sendo centralizada no ter e não no ser; mais no receber do que no servir; mais no sucesso do que na negação de si mesmo – condição sine qua non colocada por Jesus para seus discípulos: “Aquele que quiser me seguir, negue-se a si mesmo, tome a cada dia a sua cruz e vem, e me segue”.
O desafio, meus irmãos, é buscar uma vida frugal e solidária; participativa e distributiva em vez de egoísta e cumulativa. Devemos, sim, buscar o bem estar para a família, poupar responsavelmente para necessidades futuras – sem, porém, a busca alucinada pelos primeiros lugares, o luxo e a alienação. O mundo precisa ver em nós, cristãos, um povo que partilha, um povo modesto e singelo – como o povo simpático, que atraia os pagãos do primeiro século por seu estilo de vida fraterno e participativo.
A Igreja precisa ocupar lugar de vanguarda em busca de alternativas de viver que proclamem os valores do Reino, dignifiquem o ser humano e restaurem ecossistemas. Cabe as lideranças cristãs o ensino do estilo de vida ensinado por Jesus e imitado pelos apóstolos. Vivemos em um tempo em que a filosofia chega a um beco sem saída, por que ignora a transcendência - entendendo o ser humano como máquina, advoga o niilismo e a completa autodeterminação. Nessa babilônia a juventude internacional cresce perdida, em trevas espirituais, que precisa da luz do Evangelho real – e não das meias verdades pregadas interesseiramente.
A vivência cristã deve ser integral e comprometida com o mundo carente dos valores espirituais e dos preceitos morais – que dizem mais respeito ao coração contrito do que ao legalismo soberbo dos juízes religiosos.
Seguiremos a Cristo ou seguiremos o mercado?
Mais do que nunca a modéstia e a simplicidade cristãs devem ser evidenciadas. Se realmente somos novas criaturas, vamos trilhar o Caminho salutar que refrigera a alma. Se o Senhor é o meu pastor nada do que for realmente necessário nos faltará.

José J. de Azevedo