quinta-feira, 1 de abril de 2010




A CELEBRAÇÃO
DA PÁSCOA

Os dias que antecedem a Páscoa são propícios para meditarmos no mistério da presença de Cristo. Ao mesmo tempo em que Ele voltou para o Pai, fez permanente Sua presença, desde o Pentecostes - guiando e consolando Sua Igreja. A estação da Páscoa é o período que compreende oito domingos que nos fazem lembrar a peregrinação de Jesus a Jerusalém e cada um dos passos de sua missão naquela cidade. Na antiga aliança a Páscoa referia-se a celebração dos judeus, que comiam pães sem fermento e ervas amargas lembrando o cativeiro no Egito e a passagem, para além do Mar Vermelho, em direção à terra prometida. Recordava também a passagem do anjo que levou a vida dos primogênitos do Egito, poupando as famílias em cujos umbrais de suas portas haviam pintado com sangue de um cordeiro sacrificado. Na Igreja apostólica a celebração teve seu significado ampliado no sacrifício do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo – Jesus Cristo – e sua gloriosa ressurreição. Jesus passou pela morte, venceu-a para nos garantir a vida eterna. O vocábulo nos conecta com a celebração da antiga Páscoa. Os primeiros cristãos entenderam a continuidade simbólica entre o cordeiro morto da Páscoa Judaica e o Cordeiro de Deus, sacrificado na Cruz do Calvário. De um modo semelhante à imagem do Êxodo foi reinterpretada. Como Moisés conduziu os Israelitas através do deserto, atravessando o Mar Vermelho - vencendo a escravidão no Egito e a Faraó, rumo à liberdade - assim Jesus Cristo,em seu sacrifício e na Sua ressurreição, nos liberta da escravidão do pecado e da morte, conduzindo seu povo à vida eterna!
A semana inicial da celebração da Páscoa, na Igreja antiga, teve um caráter distintivo. Os novos membros comungantes participavam de uma vigília de adoração Usavam roupões novos, brancos, oferecidos a eles depois do seu batismo. O pastor ensinava-os a compreender o significado da vida cristã ministrado nos ritos de iniciação: O batismo e a comunhão.Agostinho, Bispo de Hipona, ensinava os africanos recentemente batizados, dizendo: "Considerem-se como transportados para fora do Egito onde eram submetidos a uma severa escravidão e onde a injustiça reinava sobre vocês. Agora, tendo atravessado o Mar Vermelho, pelo batismo, no qual vocês receberam o selo de Cristo - firmado sobre a cruz sangrenta - vocês estão, por isso, livres dos pecados passados que os separava de Deus. Assim seus pecados foram perdoados". A água sobre a cabeça, ou a imersão do corpo, simboliza o novo nascimento – obra que não veio da vontade da carne, mas pela vontade misericordiosa de Deus, manifesto como Nosso Senhor Jesus Cristo. A Semana da Páscoa levava os neófitos a refletirem no significado do Batismo e da Eucaristia, que eles tinham participado pela primeira vez. Hoje Páscoa é o tempo mais apropriado para a igreja celebrar o Batismo e o sacramento da Ceia do Senhor. Até mesmo quando não houver ninguém preparado para Batismo é apropriado que a Igreja seja desafiada à reafirmação do compromisso congregacional do Batismo - que nos leva a lembrar o nosso morrer com Cristo e nossa participação em Sua ressurreição - como novas criaturas. Se os irmãos da Igreja recordarem da Páscoa em seu real significado - e não como mais um feriado, apenas - será mais uma oportunidade de reafirmar o batismo. Ao longo dos dias que antecedem a celebração da Páscoa somos convidados a compartilhar os fatos da Ressurreição de Cristo: As mulheres que encontraram a tumba vazia, os discípulos que haviam fechado as portas, temerosos; outros que foram pescar - voltando à velha vida. Somos convidados a compartilhar a história de Tomé - que duvidava - e crescer em nosso discipulado, vencendo nossas dúvidas e medos – ansiando seguir nosso Mestre, amorosamente. Podemos, também, percorrer a estrada de Emaús onde caminhavam dois discípulos entristecidos e temerosos. Eles foram encontrados pelo Jesus ressurreto e passaram a desfrutar da presença ardente de Cristo. Assim, devemos lembrar que Ele nos procura para nos consolar e fortalecer na jornada. Podemos, como aqueles dois, reconhecê-lo no partir do pão e no partilhar do cálice - a celebração da Comunhão, a Ceia do Senhor.A celebração eclesiástica da Páscoa não pode prender-se apenas a um olhar para uma tumba vazia, em Jerusalém, há mais de dois mil anos. Deve nos levar a refletir sobre o aqui e agora de nossa vida cristã. Lembrando de nossa morte – a negação do velho eu – simbolizada no batismo - e nossa ressurreição em Cristo, que se fez sacrifício vivo na cruz. Nosso coração deve arder de amor e em intercessão pelos irmãos que sofrem, perto ou longe – deve clamar pelos que são rejeitados e perseguidos por causa de seu testemunho. A presença do Consolador nos motiva ao exercício prático do amor ao próximo e a bendizer a quem possa nos maldizer ou maltratar. Pois fomos amados quando éramos inimigos de Deus e achados quando andávamos desgarrados e sem esperança.Celebramos o Bom Pastor - metáfora do cuidado divino para conosco. Imagem popular até mesmo em culturas que quase nada sabem sobre o cotidiano de pastores e suas ovelhas.
A Ascensão
Antes do quarto século eram celebradas, em uníssono, a ascensão do Senhor e a efusão do Espírito Santo como dois aspectos distintos e complementares da obra de Cristo Redentor. João Calvino sempre enfatizou a superlativa importância da Ascensão de Jesus - a quem foi dada toda a autoridade, no céu e na terra (Mt 28.18). Cristo‚ Senhor do mundo, fundador e o cabeça da igreja! Dessa forma, a ascensão de Cristo não interessa só a igreja, mas a toda humanidade e toda a criação - ao ser integral, tanto em sua dimensão espiritual, como social e política.O fato de Cristo ter ressurgido dos mortos e ascendido ao céu torna obsoleto qualquer outro paradigma de fé. Cristo reina supremo sobre todos os deuses da imaginação e devoção humanas!A Páscoa em algumas tradições foi celebrada como “Tempo de Alleluia". Durante a quaresma a Igreja deixava de cantar aleluia. Mas, ao raiar do domingo da ressurreição todas as celebrações e peregrinações, eram motivo para expressar através da música e do canto a alegria da Páscoa:
“Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor... Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 5.12-13).
(José J de Azevedo)

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