O que caracterizou o regime de separação entre brancos e negros, na África do Sul, foi a imposição de uma política discricionária e segregacionista – pela imposição de leis do governo do Partido Nacional. A maioria da população, de 1948 a 1994, era desconsiderada em sua cidadania, tendo seus direitos negados pela mentalidade nazi-fascista da elite governante, no poder. No Brasil esse regime, o apartheid, sobrevive com vigor numa clandestinidade ostensiva e deprimente – porém real como esta folha de papel.
Após as eleições gerais de 1948 foram impostas leis que impunham a segregação entre negros, indianos, de um lado e brancos, em áreas residenciais separadas – com remoções forçadas. Para os negros o atendimento de saúde e educação, como outros serviços públicos era inferior ao dos brancos. Esse fato gerou violência e o aparecimento de uma liderança e revoltas populares. Vários países passaram a uma política de embargo comercial com a África do Sul, em função da discriminação oficial – que atentava contra a política dos direitos humanos da ONU – Organização das Nações Unidas. Líderes anti-apartheid passaram a ser presos e a repressão policial aumentava frente a manifesta insatisfação popular.
Infelizmente o Brasil cultiva, extra-oficialmente, uma política segregacionista, socialmente atrasada em sua legislação e violenta em seus fidalgos costumes. O apartheid é real e suas conseqüências são dramáticas. Estão nas estatísticas e fazem do nosso País um dos mais violentos do mundo. As barreiras são geradas pela grana, pela exclusão e pela indiferença. Nessas condições a burocracia medra como parasita.
Grande parte da população, nas últimas décadas, foi forçada a migrar para as metrópoles – despreparadas para receber milhões de pessoas. Em função dessa realidade dezenas de milhões de pessoas vivem em lugares insalubres, convivendo com o lixo, a falta de saneamento e em regiões de risco. Forçada a desvincular-se de suas tradições culturais e de seu modo de viver em maior harmonia com o meio-ambiente. O fruto da falta de planejamento e vontade política conduz grande parcela da população para a marginalização – o caminho mais curto para a marginalidade.
Apesar de cada brasileiro médio pagar compulsoriamente cerca de 40% de sua renda, em impostos, a desigualdade na distribuição de renda e de serviços públicos é gritante. O mau exemplo de personagens dos três poderes, a impunidade, levam o país a identificar-se ao apartheid sul-africano – demolido na legislação atual, porém ainda sobrevivente em função de condições sociais de muitos de origem africana.
A população, além de morar mal, muitas vezes se vê obrigada a ocupar áreas de verdadeiros grilos urbanos - como o do Pinheirinho atualmente nas mãos da massa-falida de uma empresa do especulador libanês Naji Nahas, flagrado na Operação Satiaghara da Policia Federal – a população oprimida no interior do Brasil, que veio às grandes cidades, sofre pelas deficiências na educação de suas crianças, no atendimento de saúde, no saneamento – vivendo em meio a valetas abertas, córregos poluídos; subempregados e geralmente vistos como suspeitos pela polícia.
Dezenas de milhares que caem na delinqüência pagam caro, mofando em cadeias, distritos policiais e penitenciarias – de forma precária, que atenta contra a dignidade humana. Raros são os que podem estudar e trabalhar, nesses estabelecimentos penais, e grande parcela volta para as ruas mais escolada no crime, e mais revoltada. Talvez milhares de detentos devessem estar em tratamento psiquiátrico – porém são tratados como bandidos comuns.
No Brasil do apartheid real uma casta de corruptos e corruptores, bem assessorada pela advocacia, através de regimes autoritários ou democracias de fachada, deitam e rolam nas brechas da legislação e nos expedientes soturnos de bastidores mal-assombrados, em iniciações temerárias. “Ai de vós”, diria Francisca de Souza da Silva.
Desembargadores e juízes desfilam como pavões, ostentando o luxo advindo de supersalários, a revelia da legislação, nutridos por dezenas de penduricários mensais. Nos salões da moda, com certeza, coabitam com uma elite gerada pela ocupação ilegal de terras públicas – através de expedientes que envolvem cartórios, falsários e grandes latifundiários, sempre famintos de novas terras, para a pata do gado ou a monocultura de exportação. Escândalos financeiros saem das páginas dos jornais para a impunidade e o esquecimento. A corrupção ativa e passiva em escalões de governo – em todos os níveis – é esquecida! Processos mofam nas prateleiras do judiciário até o doce livramento, pelo “decurso de prazo”. Quando uma boa equipe consegue provar e confrontar mega-contraventores, travestidos de banqueiros sérios, logo vem a eles o socorro do habeas-corpus. Várias aves de rapina, então, voam para outros países enquanto outros continuam a coabitar nos círculos dos cidadãos que, apesar de tudo, estão acima de qualquer suspeita – afinal de contas no regime do apartheid cadeia é coisa prá pobre, mulato ou preto.
Enquanto os salários e outros proventos são votados em beneficio próprio, nas nobres casas do Congresso Nacional a aposentadoria de dezenas de milhões de brasileiros emagrecem pela sangria provocada por mudanças de táticas de apropriação indébita para gerar recursos para sustentar a soberba elite dos três poderes.
Crescem as crianças subnutridas e mal educadas – filão para os donos da contravenção, os traficantes e os prostituidores – enquanto isso a TV executa a cores e em HD o emburrecimento da massa, esterilizando reações, entorpecendo com novelas – vitrine para a venda de bebidas, cigarros (efeito demonstração) e modismos degradantes para uma juventude conduzida como gado pelos “reality shows”.
Infelizmente a decadência permeia setores da igreja cristã, no Brasil, especialmente em tendências neo-pentecostais, onde a verdade bíblica é manifesta com parcialidade para agradar o público e fortalecer líderes e denominações – agravando a ignorância de muitos quanto à redenção e desinformando quanto à liberdade que advém do conhecimento íntegro das Escrituras. O orgulho espiritual, o pior dos pecados no dizer de C.S.Lewis, tem levado muitos a perverter a sã doutrina. Muitas desses vitimas da injustiça e da indiferença são excluídos até junto à porta de templos.
Esse é um breve perfil do regime do apartheid no Brasil. Talvez pior do que o da antiga África do Sul, porque mascarado. As leis brasileiras afirmam que todos são iguais diante da lei – porém a realidade desmente, a prática ignora a letra. O Brasil é formado por um povo solidário e generoso – a alma deste País persevera no coração dos pobres, apesar de injustiças estruturais de raízes históricas e vícios persistentes na mentalidade de parcela da elite ramificada em pontos estratégicos, com articulação nos poderes da república.
Claro que não devemos ser pessimistas, mas afirmar que, graças a Deus, existem pessoas justas e honestas nos três poderes – porém não podemos fugir de uma verdade escancarada que temos que enfrentar com perseverança e determinação. O Brasil já foi bem pior do que hoje e, cremos, será melhor amanhã. Isso depende de cada um de nós, nas práticas, nas atitudes e nas crenças. O caminho passa pela consolidação da democracia – autoritarismos de direita e de esquerda já causaram estragos demais, no mundo. Cabe a cada um exercer seu papel com honesta dignidade, deixando de lado a lógica perversa do oportunismo. Fixando a vida nos valores magnos da ética e da liberdade responsável – pois, mais cedo ou mais tarde, colhemos o que semeamos.
(José J . Azevedo)
Após as eleições gerais de 1948 foram impostas leis que impunham a segregação entre negros, indianos, de um lado e brancos, em áreas residenciais separadas – com remoções forçadas. Para os negros o atendimento de saúde e educação, como outros serviços públicos era inferior ao dos brancos. Esse fato gerou violência e o aparecimento de uma liderança e revoltas populares. Vários países passaram a uma política de embargo comercial com a África do Sul, em função da discriminação oficial – que atentava contra a política dos direitos humanos da ONU – Organização das Nações Unidas. Líderes anti-apartheid passaram a ser presos e a repressão policial aumentava frente a manifesta insatisfação popular.
Infelizmente o Brasil cultiva, extra-oficialmente, uma política segregacionista, socialmente atrasada em sua legislação e violenta em seus fidalgos costumes. O apartheid é real e suas conseqüências são dramáticas. Estão nas estatísticas e fazem do nosso País um dos mais violentos do mundo. As barreiras são geradas pela grana, pela exclusão e pela indiferença. Nessas condições a burocracia medra como parasita.
Grande parte da população, nas últimas décadas, foi forçada a migrar para as metrópoles – despreparadas para receber milhões de pessoas. Em função dessa realidade dezenas de milhões de pessoas vivem em lugares insalubres, convivendo com o lixo, a falta de saneamento e em regiões de risco. Forçada a desvincular-se de suas tradições culturais e de seu modo de viver em maior harmonia com o meio-ambiente. O fruto da falta de planejamento e vontade política conduz grande parcela da população para a marginalização – o caminho mais curto para a marginalidade.
Apesar de cada brasileiro médio pagar compulsoriamente cerca de 40% de sua renda, em impostos, a desigualdade na distribuição de renda e de serviços públicos é gritante. O mau exemplo de personagens dos três poderes, a impunidade, levam o país a identificar-se ao apartheid sul-africano – demolido na legislação atual, porém ainda sobrevivente em função de condições sociais de muitos de origem africana.
A população, além de morar mal, muitas vezes se vê obrigada a ocupar áreas de verdadeiros grilos urbanos - como o do Pinheirinho atualmente nas mãos da massa-falida de uma empresa do especulador libanês Naji Nahas, flagrado na Operação Satiaghara da Policia Federal – a população oprimida no interior do Brasil, que veio às grandes cidades, sofre pelas deficiências na educação de suas crianças, no atendimento de saúde, no saneamento – vivendo em meio a valetas abertas, córregos poluídos; subempregados e geralmente vistos como suspeitos pela polícia.
Dezenas de milhares que caem na delinqüência pagam caro, mofando em cadeias, distritos policiais e penitenciarias – de forma precária, que atenta contra a dignidade humana. Raros são os que podem estudar e trabalhar, nesses estabelecimentos penais, e grande parcela volta para as ruas mais escolada no crime, e mais revoltada. Talvez milhares de detentos devessem estar em tratamento psiquiátrico – porém são tratados como bandidos comuns.
No Brasil do apartheid real uma casta de corruptos e corruptores, bem assessorada pela advocacia, através de regimes autoritários ou democracias de fachada, deitam e rolam nas brechas da legislação e nos expedientes soturnos de bastidores mal-assombrados, em iniciações temerárias. “Ai de vós”, diria Francisca de Souza da Silva.
Desembargadores e juízes desfilam como pavões, ostentando o luxo advindo de supersalários, a revelia da legislação, nutridos por dezenas de penduricários mensais. Nos salões da moda, com certeza, coabitam com uma elite gerada pela ocupação ilegal de terras públicas – através de expedientes que envolvem cartórios, falsários e grandes latifundiários, sempre famintos de novas terras, para a pata do gado ou a monocultura de exportação. Escândalos financeiros saem das páginas dos jornais para a impunidade e o esquecimento. A corrupção ativa e passiva em escalões de governo – em todos os níveis – é esquecida! Processos mofam nas prateleiras do judiciário até o doce livramento, pelo “decurso de prazo”. Quando uma boa equipe consegue provar e confrontar mega-contraventores, travestidos de banqueiros sérios, logo vem a eles o socorro do habeas-corpus. Várias aves de rapina, então, voam para outros países enquanto outros continuam a coabitar nos círculos dos cidadãos que, apesar de tudo, estão acima de qualquer suspeita – afinal de contas no regime do apartheid cadeia é coisa prá pobre, mulato ou preto.
Enquanto os salários e outros proventos são votados em beneficio próprio, nas nobres casas do Congresso Nacional a aposentadoria de dezenas de milhões de brasileiros emagrecem pela sangria provocada por mudanças de táticas de apropriação indébita para gerar recursos para sustentar a soberba elite dos três poderes.
Crescem as crianças subnutridas e mal educadas – filão para os donos da contravenção, os traficantes e os prostituidores – enquanto isso a TV executa a cores e em HD o emburrecimento da massa, esterilizando reações, entorpecendo com novelas – vitrine para a venda de bebidas, cigarros (efeito demonstração) e modismos degradantes para uma juventude conduzida como gado pelos “reality shows”.
Infelizmente a decadência permeia setores da igreja cristã, no Brasil, especialmente em tendências neo-pentecostais, onde a verdade bíblica é manifesta com parcialidade para agradar o público e fortalecer líderes e denominações – agravando a ignorância de muitos quanto à redenção e desinformando quanto à liberdade que advém do conhecimento íntegro das Escrituras. O orgulho espiritual, o pior dos pecados no dizer de C.S.Lewis, tem levado muitos a perverter a sã doutrina. Muitas desses vitimas da injustiça e da indiferença são excluídos até junto à porta de templos.
Esse é um breve perfil do regime do apartheid no Brasil. Talvez pior do que o da antiga África do Sul, porque mascarado. As leis brasileiras afirmam que todos são iguais diante da lei – porém a realidade desmente, a prática ignora a letra. O Brasil é formado por um povo solidário e generoso – a alma deste País persevera no coração dos pobres, apesar de injustiças estruturais de raízes históricas e vícios persistentes na mentalidade de parcela da elite ramificada em pontos estratégicos, com articulação nos poderes da república.
Claro que não devemos ser pessimistas, mas afirmar que, graças a Deus, existem pessoas justas e honestas nos três poderes – porém não podemos fugir de uma verdade escancarada que temos que enfrentar com perseverança e determinação. O Brasil já foi bem pior do que hoje e, cremos, será melhor amanhã. Isso depende de cada um de nós, nas práticas, nas atitudes e nas crenças. O caminho passa pela consolidação da democracia – autoritarismos de direita e de esquerda já causaram estragos demais, no mundo. Cabe a cada um exercer seu papel com honesta dignidade, deixando de lado a lógica perversa do oportunismo. Fixando a vida nos valores magnos da ética e da liberdade responsável – pois, mais cedo ou mais tarde, colhemos o que semeamos.
(José J . Azevedo)