domingo, 8 de novembro de 2009

A.W.TOZER



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O QUE SIGNIFICA ACEITAR CRISTO

A.W. Tozer*

Poucas coisas, felizmente poucas, são assuntos de vida e morte, tal como uma bússola para uma viagem marítima ou um guia para uma viagem através do deserto. Ignorar coisas assim vitais não é só lançar sortes ou correr um risco, mas puro suicídio; ou seja, estar certo ou estar morto.
Nosso relacionamento com Cristo é uma questão de vida ou morte, e num plano muito superior. O homem que conhece a Bíblia sabe que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores e que os homens são salvos apenas por ele sem qualquer influência por parte de quaisquer obras meritórias deles.
Tal coisa é verdadeira e sabida, mas a morte e ressurreição de Cristo evidentemente não salvam todos de maneira automática. Como o indivíduo entra numa relação salvadora com Cristo? Sabemos que alguns fazem isso, mas é óbvio que outros não alcançam esse plano. Como é coberto o abismo entre a redenção provida objetivamente e a salvação recebida subjetivamente? Como o que Cristo fez por mim opera em meu interior? Para a pergunta: “O que devo fazer para ser salvo?” devemos aprender a resposta correta. Falhar neste ponto não envolve apenas arriscar nossa alma, mas garantir o exílio eterno da face de Deus. É aqui que devemos estar certos ou perder-nos para sempre.
Os cristãos “evangelicais” fornecem três respostas a esta pergunta ansiosa: “Creia no Senhor Jesus Cristo”, “Receba a Cristo como seu Salvador pessoal” e “Aceite a Cristo”. Duas delas são extraídas quase literalmente das Escrituras (At. 16.31; Jo 1.12), enquanto a terceira é uma espécie de paráfrase, resumindo as outras duas. Não se trata então de três, mas de uma só.
Por sermos espiritualmente preguiçosos, tendemos a gravitar na direção mais fácil a fim de esclarecer nossas questões religiosas, tanto para nós mesmos como para outros; assim sendo a fórmula “Aceite a Cristo” tornou-se uma panacéia de explicação universal, e acredito que tem sido fatal para muitos. Embora um penitente ocasional responsável possa encontrar nela toda a instrução de que precisa para ter um contato vivo com Cristo, temo que muitos façam uso dela como um atalho para a terra Prometida, apenas para descobrir que ela os levou em vez disso a “uma terra de escuridão, tão negra quanto as próprias trevas; e da sombra da morte, sem qualquer ordem, e onde a luz é como a treva”
A dificuldade está em que a atitude “Aceite a Cristo” está provavelmente errada. Ela mostra Cristo suplicando a nós, em lugar de nós a Ele. Ela faz com que fique de pé, com o chapéu na mão, aguardando o nosso veredicto a respeito d’ELE, em vez de nos ajoelharmos com os corações contritos esperando que Ele nos julgue. Ela pode até permitir que aceitemos Cristo mediante um impulso mental ou emocional, sem qualquer dor, sem prejuízo de nosso ego e nenhuma inconveniência ao nosso estilo de vida normal.
Para esta maneira ineficaz de tratar um assunto tão vital, podemos imaginar alguns paralelos; como se, por exemplo, Israel tivesse “aceito” no Egito o sangue da Páscoa, mas continuasse vivendo em cativeiro, ou o filho pródigo “aceitasse” o perdão do pai e continuasse entre os porcos no país distante. Não fica claro que se aceitar Cristo deve significar algo, é preciso que haja ação moral em harmonia com essa atitude?
Ao permitir que a expressão “Aceite a Cristo” represente um esforço sincero para dizer em poucas palavras o que não poderia ser dito tão bem de outra forma, vejamos então o que queremos ou devemos indicar ao fazer uso dessa frase.
Aceitar a Cristo é dar ensejo a uma ligeira ligação com a Pessoa de nosso Senhor Jesus absolutamente única na experiência humana. Essa ligação é intelectual, volitiva e emocional. O crente acha-se intelectualmente convencido de que Jesus é tanto Senhor como Cristo; ele decidiu segui-lo a qualquer custo e seu coração logo está gozando da singular doçura de sua companhia.
Esta ligação é total, no sentido de que aceita alegremente Cristo por tudo o que Ele é. Não existe qualquer divisão covarde de posições, reconhecendo-o como Salvador hoje e aguardando o amanhã para decidir quanto à Sua soberania. O verdadeiro crente confessa Cristo como seu Tudo em Todos sem reservas. Ele inclui tudo de si mesmo, sem que qualquer parte de seu ser fique insensível diante da transação revolucionária.
Além disso, sua ligação com Cristo é toda-exclusiva. O Senhor torna-se para ele a atração única e exclusiva para sempre, e não apenas um entre vários interesses rivais. Ele segue a órbita de Cristo como a Terra a do Sol, mantido em servidão pelo magnetismo do seu afeto, extraindo dEle toda a sua vida, luz e calor. Nesta feliz condição são-lhe concedidos novos interesses, mas todos eles determinados pela sua relação com o Senhor.
O fato de aceitarmos Cristo dessa maneira todo-inclusiva e todo-exclusiva é um imperativo divino. A fé salta para Deus neste ponto mediante a Pessoa e a obra de Cristo, mas jamais separa a obra sem modificação ou reserva, e recebe e goza assim tudo o que Ele fez na obra de redenção, tudo o que ele está fazendo agora no céu a favor dos seus, e tudo o que opera neles e através deles.
Aceitar a Cristo é conhecer o significado das palavras: “pois, segundo Ele é, nós somos neste mundo” (1 João 4.17). Nós aceitamos os amigos dele como nossos, seus inimigos como inimigos nossos, sua cruz como a nossa cruz, sua vida como a nossa vida e seu futuro como o nosso.
Se é isto que queremos dizer quando aconselhamos alguém a aceitar a Cristo, será melhor explicar isso a ele, pois é possível que se envolva em profundas dificuldades espirituais caso não explanarmos o assunto.

* A.W.Tozer (1897-1963) pastoreou igrejas da Aliança Cristã e Missionária por mais de 30 anos. Apesar de não ter freqüentado seminário, seu amplo conhecimento bíblico, o forte inpacto de sua pregação e a prolífica criação literária (escreveu mais de 40 livros) renderam-lhe a concessão de dois doutorados honorários. Tozer é reputado entre os maiores pregadores de todos os tempos.
(in O MELHOR DE A.W.TOZER - 3ª ed. - São Paulo: Mundo Cristão, 1997)

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