segunda-feira, 18 de julho de 2011
SAÚDE & AGROTÓXICOS
VENENOS NO AR, NO SOLO, NA ÁGUA E NA MESA:
BRASIL, CAMPEÃO MUNDIAL DOS AGROTÓXICOS
Em sua pagina de “Economia & Negócios”, de 7.08.2009, o Estadão online noticiava o Brasil como campeão do mundo na utilização de venenos agrotóxicos – divulgando levantamento encomendado pela ANDEF – Assoc. Nacional de Defesa Vegetal, que representa os fabricantes dos venenos. Essa indústria movimentou US$ 7,1 bilhões, naquele ano. Relata o jornal: “O consumo cresceu no País, apesar de a área plantada ter encolhido 2%. A matéria ficou restrita ao ufanismo do agro-negócio e seus parceiros da indústria dos agrotóxicos: “Quanto mais avançado o sistema produtivo, maior o consumo de agrotóxico”. A queda nos preços dos venenos foi atribuída à crise americana, porém, na verdade, há um grande esforço nos EUA e Europa em reverter à utilização dos agrotóxicos – nocivos para a terra, nocivos para a saúde humana, poluentes do ar e da água. Quanto maior a sua utilização maior o comprometimento e dependência desse “avançado sistema produtivo” (monoculturas, agropecuária industrial, etc.).
No “Estadão/Planeta de 30.05.2010 a linguagem é outra: “Até agora, dos 14 produtos que deveriam ser submetidos à avaliação, só houve uma decisão: a cihexatina, empregada na citricultura, será banida a partir de 2011. Até lá, seu uso é permitido só no Estado de São Paulo. Enquanto as decisões são proteladas, o uso de agrotóxicos sob suspeita de afetar a saúde aumenta. Um exemplo é o endossulfam, associado a problemas endócrinos. Dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que o País importou 1,84 mil tonelada do produto em 2008. Ano passado, saltou para 2,37 mil t. "Estamos consumindo o lixo que outras nações rejeitam", resume a coordenadora do Sistema Nacional de Informação Tóxico-Farmacológicas da Fundação Oswaldo Cruz, Rosany Bochner”. Irresponsabilidade associada corrupção e imposição do loobie dos venenos, empurrados goela abaixo dos brasileiros. Por isso o Brasil virou “o principal destino de produtos banidos em outros países. Nas lavouras brasileiras são usados pelo menos dez produtos proscritos na União Europeia (UE), Estados Unidos e um deles até no Paraguai.”.
Interessante notar que as duas indústrias mais sujas do mundo – dos agrotóxicos e das usinas nucleares – tiveram a guerra como parteiras. Foram criadas, inicialmente, como armas bélicas para destruir os inimigos. Seus inventores e herdeiros, então, passaram a divulgar idéias como “átomos para a paz” e “revolução verde” para impor ao mundo seus subprodutos.
Sebastião Pinheiro, escritor e membro dos Ecojornalistas do Rio Grande do Sul lembra que “no final da guerra desenvolveram um mercado para esses produtos, que passaram a estar ao alcance do agricultor através do ensino, propaganda, experimentação e até mesmo uma necessidade forjada”. Quais os malefícios dos venenos agrotóxicos? Pinheiro responde: “Qualquer ser vivo ou ser intoxicado pode receber alta médica, mas não está curado. Não existe cura para o impacto de um agrotóxico. A pessoa carregará seqüelas durante toda a sua vida”. Relaciona: Esses malefícios, dos quais se desconhece a dimensão completa, vão desde câncer, morte por infecção aguda, hipetensão, leucemia e uma série de seqüelas. O maior problema que os cientistas estão descobrindo hoje é um fenômeno chamado alteração hormonal ou disrupção endócrina. A alteração hormonal, regulando um hormônio para mais ou para menos está alterando todos os seres vivos e isso é gravíssimo... “O agrotóxico tem impactos negativos muito graves e só iremos conhecer todos os malefícios de 3 a 5 gerações após deixarmos de utilizá-los”.
Outra informação: “A Academia Nacional de Ciências dos EUA”, em 1987, determinou que fosse buscada uma nova agricultura, “livre de venenos” – mas o Brasil continua a avançar na contra-mão da História!
Na lógica profana dos fabricantes de venenos os insetos que enriquecem a terra precisam de inseticidas, para serem eliminados e as plantas que adubam o solo, devem ser eliminadas com herbicidas porque são “pragas” – esse artificialismo interesseiro aprofunda a dependência dos venenos e adubos químicos da mesma forma que um viciado em drogas precisa aumentar a dose para obter o mesmo efeito. Outra falácia: “Diziam que os trangênicos iriam reduzir o uso dos venenos – porém em 23 milhões de hectares de soja transgênica foram aplicados algo como 530 mil toneladas de venenos, isto é, cerca de 23 litros por hectare cultivado” Assim a ditadura dos venenos atinge patamares de lucro nunca vistos – avançando sobre a terra sadia, biomas, florestas e os mananciais de água potável, pois sua lógica é o lucro a qualquer custo ambiental. Não é a toa que o olho gordo de dezenas de industrias de venenos da Ásia esteve no Brasil, promovendo a “China-Brazil AgroChemShow”.
Dados da OMS – Organização Mundial de Saúde – informam que são registrados no mundo cerca de três milhões de intoxicações agudas por ano, num total de 220 mil óbitos oficiais. Esses dados não levam em conta as doenças crônicas e casos não notificados que, segundo a médica Luciana Nussbaumer, pode ser o dobro do total notificado. Para a OMS para cada caso de intoxicação registrado existiriam outros 50 casos que não são registrados.
O Dr. Francisco Roberto Caporal, engenheiro agrônomo afirma: “Comemos e não sabemos o que comemos. A realidade em que vivemos (especialmente quando se denuncia o contrabando de venenos e registro e uso no Brasil de pesticidas já proibidos em seus países de origem, além do uso indiscriminado e abusivo de agrotóxicos) justifica uma luta dos consumidores em favor de uma transição agroecológica. Temos que lutar por uma agricultura limpa, ecológica, capaz de pouco a pouco, eliminar o modelo de agricultura agroquímica ainda dominante, de modo a construir processos produtivos capazes de reduzir os danos ao meio ambiente e à saúde e de produzir alimentos sadios para todos. E isto é possível como já demonstram milhares de agricultores e agricultoras espalhados por todos os recantos deste País. Parece que chegou a hora dos consumidores conscientes fazerem a sua parte”.
Milhares de cidadãos, moradores em cidades cercadas por latifúndios da monocultura, além de comerem veneno na comida são obrigadas a respirar o veneno espalhado de aviões sobre as plantações, que avançam sob a ação do vento sobre suas habitações – com resíduos acumulando-se nos córregos, nos poços de água potável, nos rios e na água da chuva.
Quais as conseqüências dessa exposição? O Dr. Wanderlei Antonio Pignati – Médico e professor da UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso responde: “Intoxicações agudas e crônicas, má formação fetal e mulheres gestantes, neoplasia (que causa câncer), distúrbios endócrinos (na tiróide, suprarrenal e alguns diabetes, distúrbios neurológicos e respiratórios. Nos lagos e lagoas acontece a extinção de várias espécies de animais, como peixes, anfíbios e répteis, por conta das modificações do ambiente por essas substâncias químicas. Os sedimentos ficam no fundo e servem de alimentos para a fauna aquática, causando impacto em toda a biota em cima da terra”. Pignati informa que dados detectaram que “nas 3 regiões do Mato Grosso onde mais se produz soja, milho e algodão há uma incidência 3 vezes maior de intoxicação aguda por agrotóxicos, comparando com outras 12 regiões que produzem menos e usam menos agrotóxicos. Analizando por regiões o sistema de notificação de intoxicação aguda da Secretaria Municipal, Estadual e do Ministério da Saúde, percebemos que onde a produção é maior, há mais casos de intoxicação aguda, como diarréia, vômitos, desmaios mortes, dustúrbios cardíacos e pulmonares, além de doença subcrônicas que aparecem um mês ou dois depois da exposição, de tipo neurológico e psiquiátricos, como depressão. Há grotóxicos que causam irritação ocular e auditiva. Outros causam lesão neurológica, com hemiplegia, neurite da coluna neurológica cervical. Além disso, essas regiões que produzem mais soja, milho e algodão apresentam incidência duas vezes maior de câncer em crianças e adultos e malformação em recém nascidos do que nas outras regiões que produzem menos e usam menos agrotóxicos”.
Diagnosticamos, nesses dados e relatos, um modelo perverso e agravante, que expõe a população, com desprezo à cidadania e à dignidade humana, que precisa ser criteriosamente avaliado pelo governo federal, de forma responsável e multidisciplinar, criando mecanismos legais em busca de um novo modelo, capaz de preservar o meio ambiente salutar para a sobrevivência. O ufanismo dos números deve dar lugar a uma reflexão ativa e tomada de decisão racional – pois o aparente lucro imediato vem gerando impactos nocivos para a saúde de dezenas de milhões de brasileiros que poderão ser agravados se persistir a visão de que o Brasil é terra de ninguém e onde cada um faz o que quer, de forma predatória, mesquinha, irresponsável e criminosa.
Todos almejamos um progresso que realmente valorize quem produz e quem trabalha – porém esse modelo baseado em insumos químicos venenosos, gerado em função de estratégia de guerra e imposto, contra toda a inteligência cientifica, precisa ser revertido antes que seja tarde de mais, especialmente com relação as próximas gerações de brasileirinhos.
(José J. de Azevedo, 20.06.2011)
LEIA TAMBÉM - O Roundup, o câncer e o crime do “colarinho verde”
Em: http://www.espacoacademico.com.br/051/51andrioli.htm
Bibliografia:
PINHEIRO, Sebastião ( http://www.ecoagencia.com.br/)
PACHECO, Paula (http://www.estadao.com.br/)
ROSA, Gilneida - Bioética, Agrotóxicos e Saúde (http://www.ceedo.com.br/)
CAPORAL, Dr. Francisco Roberto (http://www.vivapernambuco.com.br/)
PIGNATI, Dr. Wanderlei Antonio - Médico e Professor da UFM –
Universidade Federal do Mato Grosso (http://cpte.org.br/)
Postado por ONGURI (http://onguri.blogspot.com/)
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